14/08/2011 – Filhos de ministro faturam com filmes para prefeituras
Folha de São Paulo
Venceslau Borlina Filho
Leandro Martins
Produtora de vídeos A Ilha tem como sócios filho e nora de Wagner Rossi
Vídeos foram feitos para seis prefeituras, por meio de outra agência; envolvidos negam irregularidades
Donos de uma produtora em Ribeirão Preto, dois dos cinco filhos do ministro da Agricultura, Wagner Rossi (PMDB), estão faturando com a produção de filmes para prefeituras.
A empresa A Ilha Produção foi a autora de vídeos de propaganda para ao menos seis municípios em contratos intermediados por uma única agência, segundo levantamento da Folha.
Nos seis casos, a produtora aparece como “terceirizada” da agência Versão BR, também de Ribeirão, que venceu as licitações.
A Ilha tem como sócios Paulo Luciano Tenuto Rossi, filho do ministro, e Vanessa da Cunha Rossi, mulher do deputado estadual Baleia Rossi, presidente do PMDB no Estado.
Quando a produtora foi fundada, em 1997, Baleia aparecia como sócio. Em 2003, no início de seu primeiro mandato como deputado, ele se retirou da sociedade e passou a parte para a mulher.
À Folha Baleia disse que se desligou totalmente de A Ilha (leia texto na pág. C3).
Porém, em documento entregue à Justiça Eleitoral na eleição de 2010, Baleia declarou entre os seus bens as cotas de capital na empresa, em nome da mulher.
A Constituição proíbe parlamentares de contratar com órgãos públicos, sob pena de perda do mandato.
Mas, na prática, a produtora dos filhos do ministro vem atuando de forma terceirizada para prefeituras. A empresa produziu recentemente para Americana, Altinópolis, Bragança Paulista, Ibitinga, Valinhos e Sertãozinho.
Em todos os casos, o vínculo oficial das prefeituras é com a Versão BR, que administra ao menos R$ 23,6 milhões em verbas publicitárias dos seis governos.
O maior contrato é o assinado com a Prefeitura de Americana, de R$ 14,1 milhões. A administração confirmou ao menos dez vídeos feitos pela A Ilha (veja quadro na página C3).
VÍNCULOS
Para o especialista em licitações Paulo Boselli, professor da Fatec especializado em direito administrativo e auditoria governamental, o veto constitucional aos contratos de empresas de parlamentares com o poder público vale mesmo em “terceirizações”.
“O serviço está sendo prestado para a administração pública de qualquer jeito. A agência, neste caso, trabalha só como um intermediário.”
As prefeituras que têm contratos com a Versão BR, assim como a empresa, afirmam que todos os negócios estão dentro da lei.