26/04/2012 – Mais construtoras na mira do Supremo
Correio Braziliense
Diego Abreu
Segundo gravações da Polícia Federal, Demóstenes e Cachoeira atuaram para favorecer empresas em licitações
O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por supostamente agir em prol de três grandes empreiteiras — Delta Construções, Construtora Queiroz Galvão e Odebrecht — a pedido do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Gravações telefônicas que embasaram a abertura do inquérito no STF e o início das investigações pela Procuradoria-Geral da República (PGR) apontam indícios de que Demóstenes operou fraudes em licitações para favorecer as três construtoras. Até agora, já se sabia das ações do senador para beneficiar a Delta, por determinação de Cachoeira. A PGR investiga também a suposta atuação do parlamentar por novos contratos da Queiroz Galvão e da Odebrecht.
O primeiro passo dessa investigação foi a expedição de ofícios pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski, relator do inquérito, a chefes de governos que podem ter assinado contratos sob a influência de Demóstenes e Cachoeira. O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o prefeito de Anápolis (GO), Antônio Gomide (PT), receberam cópias desses ofícios. O Correio apurou que Perillo e Gomide foram cobrados a entregar cópias de contratos existentes com as três construtoras.
O prefeito de Anápolis disse ter entregue a resposta ao STF. O governador de Goiás não respondeu se já atendeu à exigência do ministro Lewandowski. “O ofício está sob segredo de Justiça, o que impede revelar o conteúdo”, afirma Perillo, por meio da sua assessoria de imprensa. A PGR quer saber quais são os contratos firmados entre 2009 e 2011 e cobrou documentos dos contratos vigentes. Nos ofícios expedidos a Perillo e a Gomide, o STF cobra também os contratos assinados com consórcios de empreiteiras que envolvam as empresas mencionadas.
Obras milionárias
Outros instrumentos de apuração da suposta atuação favorável às empreiteiras foram a quebra do sigilo bancário de Demóstenes e o envio das emendas parlamentares do senador. O STF já pediu as informações. Tanto o governador de Goiás quanto o prefeito de Anápolis sustentam não existir contratos com a Queiroz Galvão e com a Odebrecht. Já a Delta tem vultosos contratos com os dois governos. Na gestão de Perillo, estão vigentes obras com a Delta de R$ 115,9 milhões.
No ano passado, o primeiro da gestão do tucano, a Delta foi a principal fornecedora do governo, no que diz respeito a despesas de custeio. Em Anápolis, a construtora tem três contratos vigentes, no valor total de R$ 121 milhões. A prefeitura apresenta uma dívida de R$ 20 milhões com a Queiroz Galvão. Cachoeira agiu em prol da empreiteira e tentou receber a dívida, como o Correio mostrou.
O ministro Lewandowski também requereu à Justiça Federal em Goiás a cópia integral dos autos da investigação iniciada no foro. Segundo fonte ouvida pelo Correio, uma importante parte das peças ainda se encontra em poder da 11ª Vara Federal. Nos bastidores do meio político, há relatos de temor entre lideranças partidárias quanto ao teor das investigações que chegarão ao STF, uma vez que os investigadores já receberam a notícia de que os autos que se encontram na primeira instância contêm informações que comprometem ainda mais Demóstenes e Cachoeira. A PGR pedirá a abertura de novos inquéritos contra outros políticos. O governador de Goiás deve ser um dos investigados.