01/12/2011 – Tecnologia da CIA com espiões do Senado
Correio Braziliense
Josie Jeronimo
Arapongas do Senado usam programa da CIA
A polícia legislativa tem o mesmo programa de cruzamento de dados usado pela central de inteligência dos EUA e por outras agências de espionagem do mundo. O software custa R$ 96 mil por ano aos cofres do Congresso.
Para investigar não se sabe o quê, Senado paga R$ 96 mil anuais por software capaz de cruzar dados e interpretar padrões de informações de arquivos
O Senado paga R$ 96 mil por ano em licenças para que sua polícia legislativa tenha software de investigação que no Brasil é utilizado pela Polícia Federal, Procuradoria-Geral da República, inteligência das Forças Armadas e no exterior serve a superagências, como a Central Intelligence Agency (CIA), dos Estados Unidos, o Mossad de Israel e o serviço secreto inglês. Plataformas do programa I2 Intelligence fazem parte do contrato 027 de 2006 do Senado, que foi renovado em 2010, quando o ex-senador Heráclito Fortes (DEM-PI) ainda era o primeiro-secretário — o documento está em vigência. A empresa TRGROUP foi contratada pela modalidade de inexigibilidade de licitação por R$ 8 mil mensais.
A Casa conheceu o I2 durante a CPI do Banestado, em 2003. A ferramenta voltou a ser utilizada em comissões parlamentares do Congresso na CPI dos Correios. Depois que os colegiados encerraram o trabalho de investigação, a Polícia do Senado solicitou a ferramenta, apesar de atualmente a única CPI em funcionamento ser a do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), iniciada no segundo semestre deste ano.
O poderoso software é capaz de cruzar dados e interpretar padrões de relacionamento entre as informações utilizando diferentes tipos de arquivos ao mesmo tempo. Na CPI dos Correios, o I2 cruzou milhões de dados bancários, obtidos por meio de quebra de sigilo, com nomes de empresários e números de chamadas para encontrar relação entre suspeitos de formação de rede de corrupção.
O perito criminal federal e assessor do Ministério Público Federal José Marcion prestou consultoria às CPIs que utilizaram o programa de cruzamento de dados. Ele explica que o software destina-se a investigações complexas em órgãos dedicados exclusivamente aos cruzamentos. “É uma ferramenta muito cara para utilizar apenas para produzir diagramas, ela é feita para investigações grandes e complexas em uma constância.”
Padrões
O software I2 é utilizado juntamente com o Analyst”s Notebook, outro recurso da plataforma, responsável por transformar os padrões de relacionamento entre os dados em relatórios que dão indícios para os investigadores apurarem. O dispositivo é indicado para “investigações e análise de inteligência” na resolução de crimes de contra terrorismo, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e controle de imigração, trabalhos que fogem do escopo de atuação da Polícia do Senado.
O assessor do Ministério Público Federal afirma que sem o domínio da ferramenta o I2 “não faz nenhum milagre”, mas conta que, ao adquirir o pacote da empresa, a distribuidora oferece treinamento para operar as atribuições básicas do software. Segundo o perito criminal, algumas empresas de auditoria compram o programa para fazer cruzamento de dados, mas o I2 foi feito para dar suporte a grandes investigações criminais. Fora da esfera policial, o Ministério da Fazenda, por meio da Secretaria da Receita Federal, e alguns bancos públicos pagam pela licença exigida para a utilização do software de cruzamento de dados. A assessoria do Senado informou ao Correio que o programa é utilizado para apoio em CPIs e que será cancelado por falta de uso.
Superpoderes
Para que tipo de investigação
serve o programa I2 Intelligence:
Contra terrorismo
Tráfico de drogas
Lavagem de dinheiro
Fraudes financeiras
Fraudes com cartões de crédito
Fraudes de seguros
Contabilidade forense
Crime organizado
Controle de imigração
Falsificações
O que o software faz?
» Realiza análise indicando o relacionamento social entre indivíduos listados em banco de dados, registros telefônicos e financeiros
» Identifica padrões e conexões ocultas entre membros de grandes grupos
» Cruza dados de investigações entre órgãos policiais