02/10/2017 – ‘Só assinava’, diz Pezão sobre licitações na gestão Cabral
O Globo
Miguel Caballero e Juliana Castro
RIO — Arrolado pela defesa do ex-governador Sérgio Cabral, o governador Luiz Fernando Pezão negou ter conhecimento de pedidos de propina ou formação de cartel na licitação e nas obras do Maracanã e do PAC das Favelas. Cabral é réu junto de outras 19 pessoas no processo que investiga corrupção nestas intervenções. À época, Pezão era o secretário de Obras do governo estadual. Pezão negou ter conhecimento de cartel ou pagamento de propinas para estas obras, mas afirmou que, embora fosse o secretário, “apenas assinava” os documentos relativos a editais, licitações e contratação de empresas. A exemplo do depoimento que prestou em abril, Pezão negou que soubesse de qualquer esquema durante a gestão de seu antecessor, preso desde novembro do ano passado, na Operação Calicute.
— Eu só assinava no final. O órgão que cuidava das licitações era subordinado ao subsecretário Hudson Braga. Eu tinha confiança plena nos técnicos abaixo de mim. Apenas assinava para dar publicidade exigida por lei — afirmou Pezão, em resposta ao juiz Marcelo Bretas. — Eu atuava mais como coordenador, fazendo a ligação com Brasília. Vencendo as burocracias, junto da ex-presidente Dilma, à época na Casa Civil, para tocar as obras.
Ao responder questionamentos da defesa de Cabral, Pezão negou ter conhecimento de irregularidades.
— Não tenho nenhum conhecimento disso. Todos os editais eram público, licitação com ampla divulgação — respondeu o governador.
Pezão acrescentou que, depois que surgiram as suspeitas de corrupção e cartel nestas obras, órgãos do governo estadual estão reavaliando os contratos.
— Pedi em fevereiro ao ministro Torquato Jardim, à época na Transparência, que fossem feito inspeção nessas obras, do PAC das Favelas e do Maracanã. Todas essas obras estão sendo auditadas, tanto pela secretaria de Obras, junto com técnicos da Caixa Econômica Federal, que estão trabalhando nesses contratos. Isso está sendo finalizado e será disponibilizado a todos.
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Um dos órgãos à frente da auditoria é a Empresa de Obras Pública do Estado do Rio (Emop), cujo presidente, Ícaro Moreno, é réu no processo que investiga as suspeitas de cartel e corrupção nas licitações.
– Ele (Icaro) é dedicado, tem consciência do que fez. Ele é um técnico super íntegro de mais de 35 anos de serviço público – declarou Pezão, dizendo que confia na honestidade do presidente da Emop.
Em outro trecho do depoimento, Pezão confirmou saber que Cabral tinha “amizade pessoal” com Benedicto Junior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, e com Fernando Cavendish, da Delta. Os dois também possuem casa no mesmo condomínio da mansão de Cabral em Mangaratiba.