02/11/2013 – Empresas ligadas à Máfia do Asfalto multiplicam doações
O Estado de S. Paulo
Fausto Maceão Ricardo Chapola
Em 2010, ano em que se identificou intenso fluxo de emendas, contribuição oficial a políticos subiu 20 vezes em relação a 2006
As empresas ligadas a Olívio Scamatti, apontado pelo Ministério Público como chefe da Máfia do Asfalto, doaram 20 vezes mais na campanha de 2010 em comparação com 2006 e 50 vezes mais do que em 2008.
O total das doações do grupo do empresário atingiu, segundo a Justiça Eleitoral, a casa de R$ 1 milhão em 2010, ano em que houve um intenso fluxo de emendas parlamentares com destinação a prefeituras da região noroeste de São Paulo que contrataram os serviços de Scamatti.
Nesse mesmo ano, a procuradoria e a PF identificaram os primeiros indícios da Máfia do Asfalto, desmontada pela Operação Fratelli – missão integrada dos dois órgãos que desbaratou a organização criminosa infiltrada em pelo menos 78 municípios da região noroeste do Estado para fraudar licitações com recursos de emendas de parlamentares. O empresário, que está preso há sete meses, é o controlador do grupo Demop, que reúne empresas de construção, entre elas a Scamatti & Seller e a Scan Vias. As empreiteiras teriam sido o carro-chefe do grupo para vencer licitações supostamente fraudadas.
Nas campanhas anteriores a 2010, as doações de Scamatti se limitavam a valores menores. Em 2006, o empresário repassou R$ 49,2 mil a políticos e, em 2008, apenas R$ 20 mil.
Em 2010, o grupo de Scamatti doou dinheiro para as campanhas a deputado federal de Edson Aparecido (PSDB), Devanir Ribeiro (PT) e José Mentor (PT), além de João Antonio (PT) para a Assembleia Legislativa de São Paulo.
Em 2006, a Demop Participações Ltda. injetou R$ 49,2 mil na campanha de Edson Aparecido, que hoje é secretário da Casa Civil do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Quatro anos depois, nas eleições de 2010, a Scamatti mais que triplicou a doação ao tucano. Em nome da empreiteira ScanVias Construções Empreendimentos Lt-da., o empresário contribuiu com R$ 170 mil para a campanha de Aparecido.
Quem mais se beneficiou com as doações de Scamatti foi José Mentor. De acordo com a prestação de contas do parlamentar à Justiça Eleitoral, ele recebeu R$ 550 mil do grupo Demop em 2010.
No mesmo ano, o empresário ajudou a financiar outras campanhas petistas, como a de João Antonio – R$ 180 mil – e a de Devanir Ribeiro – mais R$ 100 mil.
O ano com a menor participação financeira de Scamatti foi 2008. De acordo com os dados da Justiça Eleitoral, ele doou R$ 20 mil a políticos. No caso, o único beneficiário foi NasserMarão Filho (PSDB), então candidato à Prefeitura de Votuporanga. A cidade é uma das 78 onde a Polícia Federal e a procuradoria fizeram apreensões e investigaram supostas fraudes em licitações durante a Operação Fratelli.
A exceção de Edson Aparecido, os outros parlamentares têm seus nomes em planilhas apreendidas com integrantes do grupo acusado pela Operação Fratelli. Essas planilhas sugerem pagamentos extraoficiais a deputados e prefeitos. O Ministério Público vê “indicativo de pagamento de propinas”.