03/03/2018 – TCM investigará compra de fitas para medição de glicose pela Prefeitura de SP
G1
Natalia Ariede e Roberta Giacomoni
Mudança levou a Prefeitura a investir R$ 16 milhões. Pacientes reclamam de defeitos.
O Tribunal de Contas do Município (TCM) vai abrir um procedimento para investigar a compra de fitas para medição de glicose que são distribuídas a pacientes com diabetes na rede municipal de saúde. O total investido foi de R$ 16 milhões. A Prefeitura diz que a decisão foi técnica, baseada num alerta de 2015 da Agência Nacional de Saúde (Anvisa).
As mudanças ocorreram no ano passado. A Prefeitura decidiu trocar o modelo do aparelho que foi usado por 10 anos em hospitais e UBSs e distribuído às pessoas que fazem a medição da glicose em casa por um modelo novo.
Cerca de 115 mil pacientes diabéticos que participam do Programa de Automonitoramento Glicêmico, da Secretaria Municipal da Saúde, tiveram de fazer a troca. A reportagem do SP2 encontrou pacientes que reclamaram que o novo medidor deu problema.
A dona de casa Zélia da Silva foi até uma UBS fazer a troca do novo aparelho. “Deu problema. Só dava erro, erro, erro”, disse.
A aposentada Marilene Roque acabou ficando seis dias sem conseguir controlar a doença. “Eles avisaram no posto que no próximo mês iam trocar. Eles iam dar um aparelho novo, com as tirinhas novas. Aí trocaram. Só que, na semana passada, o meu aparelhinho deu problema, eu trouxe para trocar, para consertar.”
A secretaria nega que haja problemas com os novos aparelhos. “Há dez anos com uma tecnologia, e mudar para outra, você sai da sua zona de conforto”, disse Márcia Grasso, enfermeira do Programa de Automonitoramento Glicêmico.
A Secretaria Municipal da Saúde informou que, dos 130 mil novos aparelhos já distribuídos, 393 foram recolhidos porque tinham algum problema. Isso representa 0,3% do total. O contrato prevê a troca dos aparelhos com defeitos.
“A insegurança é em relação à leitura da glicose, do açúcar, o que poderia levar a uma interpretação errônea, uma falsa interpretação de uma glicemia, ou um açúcar alto, e isso levar à administração de insulina de forma inadequada podendo levar o paciente até mesmo a óbito”, acrescentou a enfermeira Grasso.
O endocrinologista Luiz Turatti afirma que a medição do diabetes tem de ser feita regularmente pelos pacientes. “A gente sabe que, para alguns tipos de pacientes com diabetes, essa monitorização é fundamental no sentido não só do bom controle da doença, mas principalmente para a gente evitar as complicações que o diabetes a longo prazo pode dar”, afirmou.
Trocas
As trocas de aparelhos começaram no ano passado. O novo fornecedor é a Iquego, a Indústria Química do Estado de Goiás, que importa os aparelhos de Taiwan.
Em junho de 2017, foi publicado no Diário Oficial o primeiro contrato, com dispensa de licitação, para a aquisição de 1,1 milhão de tiras reagentes e de 3,5 mil aparelhos para hospitais e postos de saúde. Esse último item em comodato, um tipo de empréstimo. O valor do contrato: R$ 429 mil.
Em novembro, uma nova publicação: mais 20 milhões de tiras reagentes para uso domiciliar, no valor de R$ 7,8 milhões, além de 130 mil aparelhos, também em comodato. Em dezembro, outra publicação, bem parecida com a anterior. Total de R$ 16 milhões investidos.
A Secretaria da Saúde afirma que a última publicação do Diário Oficial sobre o caso será retificada. Em vez de 130 mil novos aparelhos, serão enviados 52 mil. A pasta disse, ainda, que não haverá prejuízo para a Prefeitura, já que os aparelhos foram adquiridos em comodato.