06/04/2017 – Águas Claras: CBDA montava licitações para desviar dinheiro, diz MPF
Carta Capital
José Antonio Lima
Procuradores suspeitam que cartolas fizeram conluio com agência de viagem que recebeu 23 milhões de reais da CBDA em cinco anos
Na petição em que pede à Justiça Federal autorização para deflagrar a Operação Águas Claras, que investiga desvio de dinheiro na Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), o Ministério Público Federal lista 14 grupos de irregularidades que teriam sido cometidos pelos cartolas da natação brasileira. Uma delas diz respeito à aquisição de passagens aéreas para atletas competirem no Brasil e no exterior. Segundo o MPF, essas compras era fraudadas, e pela própria CBDA.
Conforme mostra a decisão da juíza Raecler Baldresca, da 3ª Vara Federal de São Paulo, o MPF investigou diversas licitações de passagens aéreas feitas pela CBDA e detectou que as disputas eram costumeiramente travadas entre três empresas – Mundi Tour, F2 Viagens e Turismo e Roxy Turismo – “sendo que em todas elas está última foi vencedora”.
Segundo a juíza, a perícia externa do MPF mostrou “fortes indícios” de que as duas primeiras são empresas de fachada, pois não possuem sites e os telefones que constam na internet não pertencem a elas. Em seguida, os peritos fizeram cotações com outras três agências de turismo, inclusive a Roxy, e obtiveram orçamentos mais baratos para viagens exatamente iguais. Este foi o caso, também, do preço ofertado pela Roxy, mais barato que o cobrado da CBDA dois anos antes.
Ainda segundo a descrição da acusação feita pela juíza Baldresca, o MPF obteve emails da CBDA, por meio de interceptação autorizada, que mostram que “os preços dos orçamentos apresentados pela Roxy eram, na maioria das vezes, montados pela própria Confederação, a qual solicitava à agência que colocasse os orçamentos em papel timbrado, os quais eram enviados de volta à CBDA como se tivessem sido elaborados originalmente pela empresa”. Depois, afirma a juíza, a CBDA obtinha orçamentos maiores que o da Roxy para garantir a vitória da empresa.
O dono da Roxy é Michael Bruno Werwie. O MPF pediu à Justiça sua prisão temporária, assim como a de Coaracy Nunes, presidente da CBDA, mas a magistrada recusou, determinando a condução coercitiva do empresário. A sede da Roxy no centro do Rio de Janeiro foi alvo de um mandado de busca e apreensão.
Ainda segundo o MPF, a Roxy fornece passagens para a CBDA há dez anos e, nos últimos cinco, recebeu pagamentos da confederação da ordem de 23 milhões de reais.
No total, entre todas as fraudes suspeitas, o MPF estima que mais de 40 milhões de reais teriam sido desviados da CBDA.
Além de Coaracy Nunes, foram presos o diretor financeiro da confederação, Sérgio Ribeiro Lins de Alvarenga, e o coordenador técnico do polo aquático, Ricardo Cabral. Ricardo de Moura, secretário geral de Natação, está foragido.