10/03/2016 – ‘Clube de empreiteiras’ fraudava licitações da Petrobras
G1 SP
Na sentença desta terça-feira (8), o juiz Sergio Moro cita a participação da Odebrecht no clube de empreiteiras. Esse clube formou, segundo Moro, um cartel que fraudava licitações da Petrobras.
Delatores do esquema disseram que o clube de empreiteiras tinha 16 sócios fixos. Oito empreiteiras já tiveram executivos denunciados na Lava Jato. Entre elas, apenas os funcionários da UTC e da Andrade Guitierez ainda não foram julgados pelo juiz Sergio Moro.
O delator Augusto de Mendonça, então ligado a empresa Setal, disse que o clube começou a se organizar na década de 90, mas se tornou efetivo entre 2006 e 2014.
Segundo ele, o clube tinha regras que foram escritas como se fossem o regulamento de um campeonato de futebol.
Segundo Augusto de Mendonça, com base nas obras que seriam licitadas, os representantes das empresas no cartel escolhiam as suas preferências.
“Sim. Havia reuniões entre as empresas, onde se discutiam que empresas teriam prioridades em determinadas obras para que as demais empresas não atrapalhariam, ofereceriam preços superiores”, disse Augusto Mendonça.
Os investigadores apontam o dono da UTC Ricardo Pessoa como o coordenador do clube. Na delação, ele disse que as reuniões aconteciam em média quatro vezes por ano.
O Ministério Público afirma, com base nas delações, que a propina nos contratos da Petrobras variava entre 1% e 3% dos contratos e variava de acordo com o custo das obras.
O dinheiro era divido entre os funcionários da estatal nas diretorias de abastecimento, internacional e de serviços. Operadores do esquema e o Partido Progressista, o PMDB e o PT.
“Dessa média de 3%, o que fosse de diretoria de abastecimento, 1% seria repassado para o PP. E os 2% restantes ficariam para o PT dentro da diretoria que prestava esse tipo de serviço, que era a diretoria de serviço. A diretoria internacional, tinha indicação do PMDB. Então, tinha também recursos que eram repassados para o PMDB, na diretoria internacional”, disse Paulo Roberto Costa.
Outro delator, o empresário Julio Camargo, que era ligado a empresa Setal, disse que pagar propina fazia parte da regra do jogo.
“A regra do jogo, doutora, a que eu me referi é que não havia contrato na Petrobras, se não houvesse um acordo do pagamento desses valores para a diretoria de abastecimento e para a diretoria de engenharia e serviços”, afirmou Julio Camargo.
O Ministério Público Federal de Curitiba informou nesta terça-feira (8) que está trabalhando na acusação criminal envolvendo o cartel de empreiteiras.
Em outra ação, os procuradores já denunciaram seis empresas por improbidade administrativa, mau uso do dinheiro público. Eles pedem indenização e multa que somadas chegam a R$ 4,5 bilhões. Ainda não prazo para a sentença.
O Partido Progressista reafirmou que não admite a prática de atos ilícitos e que tem confiança na apuração dos fatos.
O PMDB confirma apenas a indicação de Jorge Zelada para a diretoria internacional. E nega qualquer repasse de recursos de qualquer forma para o partido.
O PT repetiu que todas as doações foram realizadas de forma legal e declaradas à Justiça Eleitoral.
O advogado de Paulo Roberto Costa disse que a propina existia, mas que a porcentagem dela era variável.
A defesa de Nestor Cerveró afirmou que ele já prestou todos os esclarecimentos sobre a corrupção dentro da Petrobras.
O advogado de Ricardo Pessoa disse o cliente prestou colaboração à Justiça e não era chefe do clube.
A defesa de Jorge Zelada disse que ele não recebeu vantagens indevidas. A Odebrecht afirmou que não vai comentar a questão do cartel porque esse crime não faz parte da sentença desta terça-feira.
A defesa da Camargo Correa disse que tem um acordo de colaboração e que a empresa assume responsabilidades e corrige irregularidades.
As defesas da UTC, da Galvão Engenharia, da Andrade Guitierrez, da OAS, de Pedro Barusco e de Alberto Youssef não quiseram comentar.
Nós não conseguimos contato com as defesas de Renato Duque, da Mendes Júnior e de Fernando Baiano. E não tivemos resposta da Engevix.