10/10/2015 – Canhedo revelou empresa de fachada em licitação, diz Fazenda Nacional
G1 DF
Isabella Calzolari
Ele avalizou empresas em concorrência do transporte no DF, diz órgão.
Advogado nega irregularidade; preso, Canhedo foi levado para a Papuda.
A Divisão de Grandes Devedores da Procuradoria da Fazenda Nacional afirmou ao G1 que o empresário Wagner Canhedo Filho deu “um tiro no pé” ao atestar a capacidade técnica de empresas de ônibus na licitação do transporte coletivo de 2012 no Distrito Federal. Para a procuradoria, a atuação do empresário durante a licitação foi a comprovação de que ele tinha empresas de fachada.
Canhedo Filho foi preso nesta sexta-feira (9) em Brasília acusado de crimes de fraude à execução, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Após sete horas de depoimento à Polícia Federal, o empresário foi encaminhado para o presídio da Papuda.
O advogado Paulo Emílio Catta Preta afirmou ao G1 que desde maio deste ano – quando Canhedo foi preso em uma operação da PF – vem apresentando documentos que afastam suspeitas contra seu cliente. Ele disse que a Procuradoria da Fazenda Nacional se equivocou sobre algumas afirmações feitas. Catta Pretta falou que entrou com um pedido de revogação da prisão preventiva de Canhedo Filho.
De acordo com o órgão, enquanto empresas devedoras de Canhedo Filho estavam blindadas contra seus principais credores pelo processo de recuperação judicial, o empresário utilizou empresas fantasmas, constituídas em nome de “laranjas”, para “realizar intensa movimentação financeira” e participar do certame.
R$ 875 milhões é o prejuízo aos cofres públicos apontado pelo MP em supostas fraudes cometidas por empresas de Wagner Canhedo Filho
A estimativa da Procuradoria da Fazenda Nacional é que as fraudes cometidas pelo grupo empresarial dele tenham causado um prejuízo de R$ 875 milhões aos cofres públicos. Segundo o órgão, ele movimentava cerca de R$ 100 milhões por ano. A defesa de Canhedo diz que as movimentações financeiras do empresário são legais.
O empresário é o principal gestor do grupo Canhedo, que atua nos setores de hotelaria e de transportes na capital federal. Ele é dono da empresa de transportes Viplan, que operou na capital federal por 44 anos.
Licitação
Ouvido pelo G1, um procurador da Fazenda Nacional envolvido nas investigações disse que a estratégia de Canhedo Filho foi “bancar” a participação de empresas que ele constituiu em nome de “pessoas interpostas” (“laranjas”) para participar da licitação do transporte coletivo. Essa movimentação era realizada no intuito de esvaziar as empresas devedoras, segundo o procurador.
“Essas empresas não têm ‘know how’ na área de serviço que ela se propõe a prestar e vem outra empresa que dá garantia do serviço com ônibus, pessoal. Como o processo de licitação é público, todos ficaram sabendo que aquelas empresas eram ligadas a ele. Começamos a monitorar essas empresas e identificamos toda a movimentação financeira que passava por ali”, disse.
Policiais na entrada de uma das garagens do Grupo Viplan, do empresário Wagner Canhedo Filho, em operação em dezembro de 2013 (Foto: Lucas Salomão/G1)
O procurador afirmou que investigações identificaram ao menos nove empresas fantasmas criadas por Wagner Canhedo Filho. “As empresas de fachada ele não criou para participar do certame. Como ele sempre deveu, essas empresas já existiam, mas a gente não sabia por onde passava o dinheiro. No dia que teve a licitação e ele bancou a participação dessas empresas, ele revelou que tinha participação nelas.”
Após o ocorrido, a procuradoria intensificou as investigações e acionou o Ministério Público Federal e a Polícia Federal. O desdobramento resultou na Operação Patriota, deflagrada pela PF em maio deste ano. Durante a ação foram cumpridos mandados de busca e apreensão em uma espécie de “bunker” da contabilidade do grupo em uma sala do Hotel Nacional, cujo proprietário é Canhedo Filho. O empresário foi preso por posse ilegal de arma.
“Durante muito tempo ele tinha que dever era um bom negócio e essa mensagem é importante porque grandes devedores pensam da mesma forma. Uma atuação coordenada da procuradoria, do MPF e da PF pode começar a desestimular esse tipo de ideia.”
Segundo a procuradoria, mesmo após a operação da Polícia Federal, Canhedo Filho continuou praticando fraudes fiscais e realizando movimentações financeiras milionárias. “É um recado claro de que pode não ser mais um bom negócio dever ao Fisco. A prisão materializa bem essa ideia de que pode não ser um bom negócio. Além de perder o patrimônio, ele também pode perder a liberdade.”
O procurador destacou que grandes devedores terão tratamento diferenciado pelo órgão. Ele disse que a prisão de Canhedo “inaugurou um novo padrão de cobrança”.
“Essa investigação que a gente fez com o Canhedo estendemos para os grandes devedores do DF. Os grandes devedores terão abordagens diferenciadas, a recuperação da dívida inscrita nesses grupos é em outro padrão, é muito mais intensa e ela conta principalmente com essa articulação de outros órgãos para investigar os reflexos criminais.”