11/12/2019 – PF diz que filha do vice-governador de AL presa em operação é sócia de empresa usada para desviar recursos da Saúde
G1 AL
Waldson Costa e Cau Rodrigues
Operação Florence – Dama da Lâmpada, deflagrada pela PF e CGU, cumpriu mandados de busca e apreensão e de prisão no Hospital Geral do Estado e na Secretaria da Saúde de Alagoas.
Presa em uma operação da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União (CGU) nesta quarta-feira (11), a filha do vice-governador de Alagoas, Luciano Barbosa (MDB), Lívia Barbosa, era sócia de uma das empresas usadas para desviar dinheiro público da Saúde. A informação é da PF.
14 pessoas foram presas. Os investigadores não divulgam as identidades de todos os alvos da Operação Florence – Dama da Lâmpada, mas confirmam que, além de Lívia, foram presos o marido dela, Pedro Silva, e as gerentes do Hospital Geral do Estado (HGE) e do Hospital Dr. Daniel Houly, em Arapiraca. Os dois mandados de prisão que não foram cumpridos são contra o médico Gustavo Vasconcelos e a esposa dele, Cristiane, porque ambos estão em viagem no exterior.
A operação cumpria nesta manhã 32 mandados de busca e apreensão, 9 mandados de prisão preventiva e 7 mandados de prisão temporária na Secretaria da Saúde de Alagoas (Sesau), no HGE e no hospital de Arapiraca. Os detalhes foram repassados em uma entrevista coletiva na sede da PF em Maceió, com representantes da CGU e do Ministério Público Federal (MPF).
O G1 tenta contato com a defesa dos suspeitos presos.
Por meio de nota à imprensa, a Sesau disse que vai contribuir com as investigações e que “internamente, será instaurada uma sindicância para apurar e punir o possível envolvimento de servidores do órgão. A Sesau ressalta que tem atuado com transparência e contribuído para o esclarecimento dos fatos desde o início do procedimento”.
Segundo as investigações, o esquema desviava recursos públicos por meio de fraudes na prestação de serviços de Órtese, Prótese e Materiais Especiais (OPME). A PF informou também que funcionários públicos do Estado recebiam mesadas de até R$ 3 mil para facilitar os crimes, que desviaram cerca de R$ 30 milhões nos últimos três anos.
“O esquema de corrupção foi executado com a criação de duas empresas, Iortal e Arafix, que, sem licitação e até mesmo sem contrato, prestavam serviços para o HGE e o Hospital Dr. Daniel Houly, em Arapiraca”, relatou o procurador do Ministério Público Federal (MPF), Marcelo Jatobá.
Lívia Barbosa, segundo os investigadores, era sócia da LP, uma empresa contratada para prestar serviços ao Iortal [Instituto de Ortopedia de Alagoas]. Há indícios de que houve fraudes nesta contratação, que foi feita sem licitação nem assinatura formal.
Servidores da Sesau recebiam mesadas como propina
A propina paga aos servidores da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) que facilitavam o esquema saía da conta do próprio Iortal.
“A gente identificou que servidores que já estavam há bastante tempo dentro da Sesau prestando serviço, concursados e outros nomeados, receberam verdadeiras mesadas”, disse o superintendente da PF em Alagoas, o delegado Eduardo Ferreira de Oliveira.
As investigações constataram a monopolização dos serviços de OPME em Maceió e na região Agreste do estado com a celebração de Termo de Colaboração injustificadamente direcionada para entidade comandada por servidor público estadual, pagamentos sem comprovação dos correspondentes serviços prestados, confusão patrimonial entre a entidade sem fins lucrativos e seus dirigentes, transferências injustificadas de recursos financeiros a servidores responsáveis pela avaliação e monitoramento dos serviços prestados constantes do Termo de Colaboração.
“Nós temos a identificação, inclusive, de troca de emails em que um servidor agradece pelo depósito de um recurso pela ajuda que ele deu ao Instituto. Nós temos situação desse nível de ilicitude”, revelou o delegado Eduardo Oliveira.
Investigação de pacientes fictícios
A Controladoria Geral da União (CGU) em Alagoas informou que concentrou a investigação, neste primeiro momento, em procedimentos realizados nos anos de 2018 e 2019 e que encontrou indícios de que procedimentos médicos podem ter sido inventados para desvio de recursos. Nestes dois anos, o esquema teria desviado R$ 10 milhões da saúde pública.
“Como os contratos ilegais antecedem este período, ainda temos que a avaliar o uso de outros R$ 15 milhões. O que pode potencializar o montante do desvio, já que em muitos casos não conseguimos sequer identificar os beneficiários dos serviços médicos, o que nos leva a suspeita da existência de pacientes fictícios para justificar os custos”, explicou o superintendente da CGU, Moacir Oliveira.
À CGU, coube verificar os valores movimentados e os serviços de saúde executados pelas empresas investigadas.
“Assim, no recorte 2018-2019, verificamos que elas receberam cerca de R$ 13 milhões, dos quais apenas R$ 1,5 milhão pôde ser comprovado efetivamente, ficando todo o restante descoberto”, explicou o superintendente ao expor que a projeção foi feita a partir do cruzamento de planilhas de dados financeiros com as do sistema de saúde.
Outra questão que chamou a atenção da CGU foi sobre os valores faturados pelas empresas, que eram semelhantes mês a mês, modificando muito pouco a quantidade de pacientes e custos.
“Ao longo do trabalho, a CGU elaborou duas notas técnicas. Uma delas chama a atenção para a repetição dos custos, situação que é improcedente porque não há alteração nas planilhas ambulatorial e hospitalar, assim como nos custos. Como se as mesmas pessoas fossem submetidas aos mesmos procedimentos todos os meses”, falou o superintendente da CGU.