11/09/2012 – Jornal: Cachoeira negociou sistema para fraudar licitação
Terra
Escutas telefônicas da Operação Monte Carlo, feitas pela Polícia Federal, revelam que Carlinhos Cachoeira negociava um software para burlar licitações feitas por pregão eletrônico. Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, o dispositivo foi classificado de infalível pelo grupo do empresário, em conversas gravadas pela PF. Em escuta de março de 2011, Cachoeira trata da aquisição do software com o ex-diretor da empreiteira Delta no Centro-Oeste Claudio Abreu. Ele afirma que o grupo ganharia “tudo quanto é licitação” com o dispositivo, que, diz Cachoeira, funcionaria por meio de uma maleta. O Tribunal de Contas da União e o Ministério do Planejamento descobriram que o programa identificava os lances dos oponentes e, de maneira quase imediata, dava lances um pouco menores, facilitando a vitória.
Nos grampos, Cachoeira e Abreu citam uma empresa chamada Régula como a fornecedora da maleta, que seria fabricada em Belarus. O represente da Régula no País, Alexandre Marinho, afirmou que foi procurado por pessoas citadas por Cachoeira no grampo. Eles queriam ser representantes de um equipamento vendido pela empresa. Marinho negou, entretanto, que seja a maleta. Segundo ele, a empresa vende equipamentos de prevenção de fraudes em veículos. O advogado de Carlinhos Cachoeira, Nabor Bulhões, afirmou que desconhece o uso da maleta e do software pelo seu cliente. “Nos autos sobre os quais me debrucei não existe nenhuma referência a isso, direta ou indiretamente.” O advogado do ex-diretor da Delta no Centro-Oeste Claudio Abreu foi procurado pelo jornal, mas não retornou. A empreiteira Delta já disse que não tem relação com Cachoeira e que eventuais ligações do nome da empresa com ele são de responsabilidade de Abreu.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.
Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.
Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.