G1 AM
Rede Amazônica teve acesso, com exclusividade, a indícios e provas que levaram à prisão de cinco pessoas na segunda fase da Operação Sangria. Ação investiga desvio de dinheiro público na pandemia.
A Polícia Federal (PF) suspeita no inquérito da segunda fase da Operação Sangria, deflagrada do dia 8 deste mês, que o vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida, usava um escritório de advocacia para combinar propina. A Rede Amazônica teve acesso com exclusividade a indícios e provas que levaram à prisão de cinco pessoas (veja vídeo acima).
Para a investigação, a cúpula do Governo do Amazonas sabia da compra superfaturada e sem licitação dos 28 respiradores de uma loja de vinhos, em maio, quando estado passou pelo pico da pandemia. Até esta sexta-feira (16), mais de 4,3 mil pessoas morreram no estado com a Covid-19.
Segundo a PF, os encontros do vice-governador aconteceram em um escritório de advocacia em um prédio comercial no bairro Adrianópolis, Zona Centro-Sul. As reuniões aconteceram em maio.
Imagens de câmeras de segurança do edifício mostram Carlos Almeida chegando para uma reunião. Em outra gravação, ele sai do edifício com uma mochila nas costas. (veja a resposta dos citados na reportagem abaixo)
A PF também constatou pelas câmeras que a secretária do gabinete do governador Wilson Lima, Lucia Carla Gama, comparece para um encontro. Ela chega com bolsa e depois da reunião, vai embora com as mãos vazias.
Os encontros foram registrados no livro de visitantes do prédio. Nele, também aparece o nome da deputada estadual Alessandra Campelo.
Conforme a Polícia Federal, a situação chamou atenção já que as reuniões aconteceram em um prédio comercial, e não no gabinete do vice-governador. A suspeita da investigação é que os encontros serviram para acertos de propina.
O que dizem os citados
Em um vídeo publicado na internet, em maio, o vice-governador Carlos Almeida informou que a mochila que ele carrega é, na verdade, uma lancheira onde leva uma crepioca e proteína.
Em nota, o vice-governador Carlos Almeida afirmou que não praticou qualquer conduta ilícita. Ele também afirmou que, “apesar do constrangimento e do dano à imagem”, entende o contexto das medidas de busca, razão pela qual colaborou com o procedimento.
“Tenho a afirmar que durante meus mais de 15 anos de vida pública sempre trabalhei pela correção e defesa de direitos, ideais que me levaram à política e que sustento com veemência durante o curso deste mandato. E, justamente por não concordar com os rumos da atual administração que me desliguei da Casa Civil no início de maio deste ano”, diz a nota.
O Governo do Estado informou, por meio de nota, que está à disposição para prestar esclarecimentos aos órgãos que conduzem a investigação e “reitera que a determinação é que a gestão tenha todos os seus atos pautados pela ética e transparência”. O governo disse, ainda, que não comentará sobre o processo em questão, que corre em segredo de Justiça.
Quanto à chefe de gabinete do governador, Lucia Carla Gama, o governo disse que, ao entrar no prédio, ela levava na sacola o almoço daquele dia. Ela entrou no prédio pouco depois do meio-dia.
A deputada Alessandra Campelo informou, em nota, que é normal que tenha relação e conversas políticas com autoridades. Ela afirmou que as conversas são sempre no sentido de tratar de questões políticas ou de gestão pública.
Primeira fase da Operação Sangria
A primeira fase da Operação Sangria apontou supostas fraudes e desvios na compra de respiradores, com dispensa de licitação, de uma importadora de vinhos — os equipamentos deveriam ser destinados ao combate ao novo coronavírus, que causa a doença Covid-19.
A PF cumpriu os mandados na sede do governo do estado, na casa do governador Wilson Lima e na secretaria de saúde, em Manaus. A operação cumpriu mandados de prisão temporária contra oito pessoas, incluindo a secretária de Saúde da época, Simone Papaiz, além de buscas e apreensões em 14 endereços de pessoas ligadas a Lima.
A PF chegou a pedir a prisão de Lima, mas Falcão disse que, “ao menos neste momento”, isso não se justifica.
Segundo a investigação, foram identificadas compras superfaturadas de respiradores; direcionamento na contratação de empresa; lavagem de dinheiro; e montagem de processos para encobrir os crimes praticados com a participação direta do governador.
*Com colaboração de Alexandre Hissayassu, da Rede Amazônica.