22/04/2017 – Licitações da Petrobras funcionavam como um jogo de cartas marcadas
Jornal Hoje
Gioconda Brasil
Delatores contam que os vencedores eram definidos com antecedência.
Grupo reunia as principais construtoras do país: “o clube das empreiteiras”.
Ex-executivos da Odebrecht contam em detalhes como funcionava o esquema de corrupção em licitações da Petrobras, conhecido como ‘clube das empreiteiras’. Veja a reportagem de Gioconda Brasil.
As licitações de obras da Petrobras eram um jogo de cartas marcadas. Os vencedores eram definidos com antecedência por um grupo que reunia as principais construtoras do país: ‘o clube das empreiteiras’.
A expressão não é nova: ficou conhecida já no fim de 2014 quando os primeiros colaboradores da Lava Jato foram presos. A existência do clube também foi confirmada por outras três empresas investigadas, mas agora, o esquema de cartel foi detalhado por executivos da Odebrecht. O clube foi criado em 2004, assim que a Petrobras passou a fazer investimentos mais agressivos no mercado.
Segundo o delator Márcio Faria, o ‘clube das empreiteiras’ era formado por 16 empresas: Odebrecht, UTC, Camargo Corrêa, Mendes Junior, Queiroz Galvão, Setal Sog, Iesa, Skanska, Promon, Engevix, GDK, MPE, Techint, Andrade Gutierrez, OAS e Galvão Engenharia, que se reuniam a cada três meses para decidir se entrariam na licitação de forma individual ou se formariam consórcios. E o principal: quem venceria a licitação.
O comandante do clube, de acordo com Márcio Faria, era o dono da UTC Engenharia: Ricardo Pessoa.
As empresas combinavam os preços que cada uma ofereceria pela obra, valores próximos uns dos outros, e acertavam também quem entraria na disputa só de fachada, apenas para dar uma aparência de legalidade às licitações das obras.
O ex-executivo da Odebrecht disse que a Petrobras incentivava as grandes empreiteiras a entrar nas licitações, mas o que ficava acertado pelo clube tinha um preço para ser colocado em prática: o pagamento de propina para diretores da Petrobras.
No depoimento de outro delator, Rogério Araújo, o procurador quis saber se em algum momento teria sido cogitada a possiblidade de não se pagar propina. A resposta foi não.
RESPOSTAS
As construtoras Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão e UTC informaram que não vão se manifestar.
A Skanska disse que trabalha com alto nível de integridade e que tem uma política de tolerância zero com relação a desvios éticos.
A Mendes Júnior informa que já foi punida com a proibição de fazer negócios com o governo e que um dos executivos da empresa, Sérgio Cunha Mendes, está há dois anos tentando fazer um acordo de delação.
A Engevix informa que respondeu por essa acusação no âmbito da Lava Jato e que o sócio responsabilizado pela Justiça se afastou da empresa.
O Jornal Hoje entrou em contato com as empresas Camargo Corrêa, Setal-Sog, Galvão Engenharia, Iesa e Promon, mas elas não responderam. E também não conseguimos contato com as empresas GDK, Techint e MPE.