27/11/2010 – Com apenas um concorrente, leilão do trem-bala é adiado para abril
Folha de S. Paulo
Dimmi Amora
Quatro grupos pediram extensão do prazo; entrega das propostas seria nesta segunda-feira
Parceiras brasileiras de coreanos abandonaram único consórcio em pé; financiamento estatal é de pelo menos R$ 20 bi
Com apenas um concorrente disposto a participar, o governo decidiu adiar em quase quatro meses o leilão do trem-bala ligando Campinas-São Paulo-Rio de Janeiro. A entrega das propostas, que seria na segunda-feira, passou para 11 de abril.
Segundo o presidente da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), Bernardo Figueiredo, responsável pelo leilão, a decisão só foi tomada porque ao menos quatro grupos empresariais informaram ao governo que apresentariam proposta se houvesse extensão de prazo.
A Folha apurou que duas grandes empreiteiras nacionais (Andrade Gutierrez e Odebrecht) e dois fabricantes estrangeiros teriam assumido o compromisso.
Segundo Figueiredo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou a decisão ao ser informado de que só haveria um grupo disputando, com 22 empresas lideradas pelos coreanos. O presidente disse que, se houvesse garantia de que o adiamento aumentaria a disputa, ele decidiria pelo adiamento.
“O processo tem que ser competitivo”, disse Figueiredo. Até quarta-feira o governo queria manter o leilão, contando que, além dos coreanos, os chineses também formariam pelo menos dois grupos: um com a construtora estatal chinesa China Railway Construction Company e outro com empreiteiras brasileiras. Mas os chineses desistiram do negócio.
Além disso, o consórcio coreano também apresentou problemas. Empresas nacionais desistiram na última hora. Mesmo assim, os coreanos conseguiram fechar um grupo novo com nove brasileiros e 13 estrangeiros.
Eles tiveram uma reunião com o representantes do governo garantindo a participação antes do anúncio de adiamento, mas não conseguiram convencê-los.
Na quarta-feira, em meio às pressões pelo adiamento, o presidente da ANTT declarou que as empreiteiras eram as interessadas em adiar o leilão com a intenção, segundo ele, de conseguir mais benefícios do governo. Figueiredo disse ontem que nada será modificado no edital, nem haverá mais benefícios.
“Temos convicção de que teremos competição com o adiamento, mas não porque vai haver alterações na modelagem”, afirmou.
Dos R$ 33,1 bilhões previstos para a obra, o governo vai dar um financiamento de R$ 20 bilhões, entrará com outros R$ 3 bilhões como sócio e ainda dá um subsídio de até R$ 5 bilhões nos juros do empréstimo caso a receita prevista não seja alcançada nos dez primeiros anos.