30/04/2020 – MP abre inquérito para investigar compra de 3 mil respiradores da China por R$ 550 milhões pelo Governo de SP sem licitação
TV Globo e G1 SP
Walace Lara e Rodrigo Rodrigues
Segundo o promotor José Carlos Blat, o valor unitário dos aparelhos, de R$ 180 mil, e a ausência de licitação no negócio pode caracterizar o crime de improbidade administrativa por parte do governo paulista.
O Ministério Público de São Paulo abriu nesta quinta-feira (30) inquérito civil público para investigar a compra de 3 mil respiradores hospitalares adquiridos da China sem licitação pelo Governo de São Paulo, ao custo de US$ 100 milhões (equivalente a R$ 550 milhões).
A aquisição desses respiradores foi comemorada nesta quarta-feira (29) pelo vice-governador, Rodrigo Garcia, como “a maior compra do governo desde o início da implementação de medidas de combate à pandemia do coronavírus”.
Segundo Garcia, os primeiros 500 respiradores devem chegar neste fim de semana e vão ajudar a ampliar os leitos de UTI na rede pública.
Porém, segundo o promotor José Carlos Blat, a compra pode configurar “ofensa aos princípios basilares da administração pública, notadamente, à legalidade, à impessoalidade e à publicidade, em eventual prejuízo ao erário”.
Ao pedir a investigação criminal do caso, Blat se baseou em uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo que aponta que os respiradores tiveram o preço médio de R$ 180 mil cada e estão acima dos valores cobrados por outros modelos similares de mercado, que custam menos da metade do preço, R$ 60 mil.
Segundo Blat, a diferença de valores entre os produtos e a falta de licitação para o negócio de preço tão alto pode caracterizar o crime de improbidade administrativa.
“O artigo 4 da Lei 8.429/92 estabelece que os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estrita observância dos princípios da Administração Pública.(…) Obras, compras, concessões ou locações devem ser necessariamente precedidas de licitação, ressalvados os casos expressos previstos na lei 8.666/1993. E nestes casos excepcionais eventual discrepância entre valores de mercado e os efetivamente pagos com relação aos equipamentos mencionados podem caracterizar ato de improbidade administrativa”, afirma o promotor na abertura de inquérito.
O inquérito civil do Ministério Público de São Paulo inclui entre os investigados a Secretaria Estadual de Saúde e cinco empresas envolvidas na compra, importação e transporte dos equipamentos da China para o Brasil.
O G1 procurou o Governo de São Paulo para um posicionamento sobre o caso e aguarda a resposta.