Vendeu envelope com jornal velho
Ouve-se falar que em algumas administrações, em determinados seguimentos do mercado, o grupo que disputa as licitações é sempre o mesmo. Esses empresários arrumam uma regra para definir quem será o vencedor de cada licitação e os demais participam do certame apenas como figurantes, visando dar credibilidade ao processo.
Esse procedimento acaba ficando conhecido por muitas pessoas e às vezes aparecem concorrentes que não fazem parte do grupo. De alguma forma eles são eliminados da licitação, normalmente com oferecimento de alguma vantagem, o que gera situações inusitadas, como é o caso deste mês.
Numa dessas ocasiões, o esquema já estava montado para dar vitória para uma determinada empresa. Todo o processo vinha correndo em total normalidade, até que outra empresa manifestou interesse pela licitação. Como era de praxe, ela recebeu um aviso de que não era para participar daquela concorrência, senão seria retalhada através de uma dura fiscalização da Fazenda Estadual.
A empresa que estava furando o esquema tinha aparecido por instrução de um dos funcionários da firma que deveria ganhar a concorrência, a qual, lá de dentro, dava todas as orientações para a furona, inclusive que não havia nenhum esquema com os fiscais do governo e o argumento era apenas intimidador.
A empresa de fora cumpriu todas as exigências para participar da concorrência: comprou o edital, fez a vistoria no local da obra e, inclusive, pagou a garantia de manutenção da proposta.
Quando a licitante que iria ganhar a licitação ficou sabendo que a outra já havia prestado garantia, teve certeza da participação dela no certame, tentou então, de todas as formas possíveis, contatar a empresa para entrar num acordo, mas nenhum acesso foi conseguido.
No dia da entrega das propostas, o diretor da licitante da vez, desesperado por não ter conseguido tirar a outra empresa da concorrência, foi pessoalmente para a licitação tentar sua última cartada. O funcionário que o estava traindo orientou-lhe a levar uma grande quantia em dinheiro vivo e oferecer ao representante da outra empresa para que ele não entregasse a proposta.
Dito e feito, a oferta foi feita e aceita, sendo entregue os envelopes para o diretor que agora tinha a certeza de que seria vencedor, sem aquela incômoda presença.
Terminada a licitação, sem mais nenhum contratempo, o diretor aliviado até achou que valeu a pena ter comprado o envelope do concorrente. Por curiosidade foi ver qual o preço que a outra empresa iria apresentar e encontrou dentro do envelope apenas um punhado de jornal velho.