21/04/2021 – Abrigos para pessoas em situação de rua correm o risco de fechar no Rio
G1 Rio
Chico Regueira
Prefeitura do Rio negou que serviços serão interrompidos e que licitação para contratar profissionais está em curso.
Com a crise gerada pela pandemia de Covid, abrigos do Rio estão em crise e correm o risco de fechar as portas. Conforme mostrou o RJ2, o Rio de Janeiro é o lugar do Brasil onde a pandemia tem deixado marcas econômicas mais profundas.
Frequentadores de abrigos para sem teto do Rio sofrem com más condições
Quase duas milhões de pessoas já vivem abaixo da linha da pobreza. A mudança da vida para pior está nas ruas, com as calçadas cheias de novos moradores que não tiveram mais condições de manter um lar.
“Eu estou numa situação de rua. Nunca vivi isso. Tudo o que eu estou vivendo hoje em dia é inédito (…) A minha vida não está muito boa, mas eu pretendo melhorar. Tudo que eu tenho está aqui”, disse João Paulo Ferreira.
Atualmente, João Ferreira arrasta as malas pelas ruas de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio. Desde que ficou sem casa, morou no Abrigo Profeta Gentileza, que fechou as portas.
“Eu fiquei hospedado aí durante sete meses. Sendo que nesses sete meses eu vivi numa condição precária”, completou.
“O que a gente está observando aqui é o fechamento de um equipamento extremamente necessário no momento da pandemia com uma população que vive em situação de extrema vulnerabilidade então um caos social para esse momento”, disse Luna Arouca, coordenadora de redes da Maré.
Nova licitação
Funcionários de abrigos e centros de acolhimento da cidade do Rio estão cumprindo aviso prévio. Os contratos entre a prefeitura e as Organizações Sociais vencem no fim de abril.
O RJ2 apurou que a Secretaria de Assistência Social corre contra o tempo para tentar fazer novas licitações. Os serviços correm risco de serem interrompidos em plena pandemia.
Depois de quase quatro meses de gestão, a Prefeitura do Rio deixou para renovar pelo menos 26 contratos.
“A prefeitura já sabia que esses contratos iriam finalizar e já podia ter feito uma nova negociação. Quando ela não faz isso, ela deixa em uma situação de fragilidade uma população que precisa extremamente desse tipo de equipamento nesse momento. Então é muito grave”, disse Luna Arouca, coordenadora da redes da Maré.
Funcionários terceirizados que estão sendo demitidos contam que a diminuição da carga horária e a liberação dos trabalhadores já geram impactos no serviço. Eles não se idêntica porque temem represálias.
“Semana que vem eu não vou poder, por exemplo, trabalhar no CRAS porque eu vou ter terminado o contrato e vou estar esperando ai no limbo pra ser recontratada ou por uma nova ONG ou pela ONG que estava. Enfim, mais uma vez o serviço público é prejudicado”, afirmou um funcionário.
“A gente já vive a questão do sucateamento de verba. Agora ter esse momento em que o serviço vai ficar mais defasado ainda onde a população está precisando muito, é muito difícil, muito complicado”, completou.
No Centro de Referência Especializado Simone de Bovouir, o cadeado está no portão porque parou de funcionar.
“A população de rua tem aumentado, é uma população que tem muitos problemas de saúde. O momento da pandemia precisa urgente de acolhimento, de abrigo, de acesso aos serviços de saúde”, completou Luna Arouca.
O que dizem os citados
A Secretaria Municipal de Assistência Social afirmou que os serviços não serão interrompidos e que não será necessário contratos emergenciais. A licitação, segundo a pasta, está em curso e de acordo com os órgãos competentes.
Sobre o abrigo do Profeta Gentileza, a secretaria disse que ele precisa de reforma e que os abrigados foram transferidos para a unidade na Ilha do Governador.